sábado, 14 de janeiro de 2012

A SORTE


Entre poeira de uma obra que não se resolve e os papéis que vão sendo jogados no lixo todos os dias enquanto esvazio gavetas e armários e caixas e peito, me vejo no centro de uma sala, como se um grande olho me observasse do alto, talvez acima do mesmo ventilador barulhento, para quem já tenho planos de lixo também. 

E lá do alto alguém deve rir dos meus dramas inúteis, das minhas tramas que terminam mal começadas e dessas lágrimas que teimam em não cair - só por dentro. É, talvez seja assim mesmo que eu esteja, feito esse buraco no meu chão que demoram a tampar, vai ver meu peito esteja como os canos que passam nas minhas paredes. Difícil localizar de onde vem o vazamento.

Eu compus essa casa e agora ela está metade em obras e eu ainda posso me lembrar de quando a pintei. É, acho que vai demorar um pouco mais pra organizar aqui dentro, um pouco mais tempo do que vou levar pra rearranjar as gavetas aqui fora...

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