sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

NU


Descubro-me todos os dias como chuva em nuvens teimosas. Não caio. Não me rendo. Não caio lavando ruas, pés, gramados de criança. Sonho com dias agitados de inconsistentes amores e laços fragilizados. Sou isso. E não sei. Pertenço a este espírito estranho de um tempo que não me tem ou não tenho. Pertenço a esta alma ondulada, entrecortada, sem chão ou céu para se deitar. Olho para o lado que não há absolutamente nada, ninguém que eu queira que me toque, que me conduza. Olho para onde não existo, para onde me procuro.

E então? Respirar assim pra quê? Pra quem? Mergulhar nos sonhos de quem? Nos meus? Que sonhos? De que sonhos falamos? Nessas estranhas imagens da noite que acreditamos ser premonições, intuições, recalques? De que sonhos somos feitos se não daqueles que já não existem mais e há muito foram suplantados por essa torpe necessidade chamada sobreviver.

Não me tenho em intimidade, não sou eu que me vejo nu todos os dias debaixo da água corrente, não sou eu quem escreve, é um outro, esse outro que sei lá, que me trepa e me goza e que não me dá nada. Nem prazer.

14/02/2011

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