sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A LAMÚRIA SE CHAMA TEMPO PERDIDO

Foto: Jean Cândido Brasileiro
Foi um dia intenso aquele. Sem raio de sol pra aquecer, mas com um frio de congelar ossos malacostumados.

Na tentativa de esquecer foi caminhando pela rua com a sensação de derrota, sensação que já havia experimentado diversas outras vezes pela vida. Talvez porque se sentia menos do que realmente era. Talvez porque sua vida fora realmente difícil e não via outra possibilidade que não fosse a de sofrer.

Na pergunta crucial que fez estava toda a sorte de significados que procurou compreender de forma delicada: "Será que você não percebe? Será que não vê que sua solidão foi cavada por você mesmo? Não percebe que a tristeza, a doença, o desespero foram criados por você?". Porque todo mundo morre, todo mundo vai embora um dia, todo amor termina, o dia nasce todo dia, mas resta uma dúvida, o sol só vem de vez em quando.

Quando o mar atinge as areias, seu som para uns é tranquilidade, para outros desespero. É uma questão de escolha.

Começou a imaginar se não estava sendo pragmático demais. Se não era egoísmo demais. Se poderia dizer diferente, que tudo no fim vai dar certo. Será que é só isso que queremos escutar? Afinal, o que esperamos ouvir quando nos debruçamos em lamúrias? Por que algumas pessoas lamentam mais do que outras? Isso não cansa?

Não sabia, não sabia se queria saber, mas não tinha raiva de quem sabe... Tinha curiosidade...

terça-feira, 16 de novembro de 2010

POEMA DO NÃO

Os caminhos escuros esparsos no meu peito
Que trafegam por entre amores entregues pela metade
No desejo imenso de se deixar ao vento
Mas não... não podem... não conseguem
E o paraíso anunciado desde sempre pelas histórias
...Se tornando vez mais distantes e impensáveis
Eu conheci este paraíso e toquei os pés em sua porta de entrada
Mas fui puxado de volta
e vi diante dos meus olhos abertos,
estúpidos e cheios de esperança e dor
portas e janelas se debaterem e se recusarem
Mãos estendidas foram recolhidas
Carinhos e afagos recusados
E pena de mim era fato consumado
E lágrimas em tardes de chuva, clichês de verdade
Corações se quebram todos os dias, aos milhares
E não houve quem os colassem

O caminho que vou entranhando alma adentro
Se perde nos meus pensamentos
E não se pode ver
Não se pode ver
Não se pode ver nãos.

Imagem: "Nas Curvas da Linha" de Jean Cândido Brasileiro

terça-feira, 9 de novembro de 2010

NÃO IMPORTA A DISTÂNCIA, HÁ SEMPRE BONDES A PASSAR

É medo sim. Mas não da felicidade. É de um sentimento inteiramente experimentado e que pode não ser mais sentido.

É medo de não sentir mais, de perder aquilo que causa o amor, o afeto, a loucura, o sorriso, o desejo. É receio de que seja mais um desses sentimentos descartáveis, consumíveis e à moda do sociólogo austríaco, líquido.

E toda aquela situação poética que cai sobre nossas cabeças e transforma o verão em mais colorido e os sorrisos em mais fáceis e sem explicação? E se tudo isso se esvai feito areia correndo por entre os dedos quando nos sentamos à beira da praia para contemplar o por do sol? E se? Como se faz? Como se dá? De que modo agarrar isso tudo que se apressa em explodir dentro do coração de um modo completamente intenso, sincero, corroído, leve e pesado ao mesmo tempo. E se felicidade realmente doer que remédio eu tomo pra não parar nunca? Que remédio eu evito para que não se acabe?

Eu não quero vocë, eu preciso de vocë...Quero estar contigo... Viverei cada manhã na esperança de acordar ao seu lado... E todas essas músicas? E todas essas vozes óbvias que dizem exatamente as obviedades que eu quero dizer? Como eu digo? Como eu faço? De que modo? De que altura? Eu te sequestro? Eu me mudo? Eu te levo ou vou com você?

Eu durmo e espero você chegar ou vivo como se tudo estivesse tranquilo e nada fosse urgente... Mas é! É urgente! É urgente e não tenho outra solução, outro meio, a não ser...esperar...

Feito a gente quando espera o bonde passar e vai feliz vendo a paisagem se desdobrando e sorrindo porque o bonde, a paisagem, o amor...tá tudo ali, à nossa mão. 
Imagem: Olhar de Jean Cândido Brasileiro