Foto de Hernani Faustino |
Entrei no metrô com a discreta sensação de que deveria ter ficado em casa. Essa vontade que às vezes sentimos com uma intuição que nada mais é do que medo e falta de vontade de conviver, coexistir. Desci aquelas escadas com o ódio dos oprimidos, de quem não quer ou não consegue interagir e precisa, se sente obrigado para não ser esquecido, cumprir papel, não magoar.
O trem ainda demoraria a chegar e meu peito arfava como o peito de um cão cansado da corrida matinal com seu dono. Eu arfava como quem vai desmaiar ou dormir. Como quem está cansado de insistir. O tempo não passa, o telefone insiste e a fome não há.
Penso num campo escuro com o céu estrelado e um silêncio que cala as vozes que trago no peito e na mente e me falam sem parar. Você vai? Vai mesmo? Não. Não vai. Vai. Vai. Não. Não quer. Não deveria.
Chega o trem.
Entro.
Mil pessoas. Centenas talvez. Uma língua diferente dentro do vagão. Estrangeiros. Estrangeiros aos montes e penso que aquela deve ser a sensação de quem chega a um pais estranho. Vozes infinitas de uma língua que não se conhece. Me sinto estrangeiro em casa. E me sinto sempre estrangeiro em casa. Estranho. Fora de lugar. Fora de onde deveria estar e onde deveria estar nunca soube. Nunca descobri.
Me vem no peito um nó. Choro. Discreto. Lágrimas vertem e me lembro de um choro convulsivo que tive algum tempo atrás. Tive medo de começar e não parar. Tive vontade de alguém que me perguntasse se estava passando mal. Eu diria "me tire daqui, me leve e me tire daqui." Para onde ir? Não saberia dizer.