segunda-feira, 11 de outubro de 2010

VENTO

O vento vive mudando a direção e descobri pasme que meu espírito tem esse mesmo caráter.

Infelizmente nasci num mundo sendetário, onde as maiores aventuras estão em comprar passagens pra Paris no cartão de crédito. E isso não faz de mim mais homem.

Sim, tenho a nítida certeza de que ser homem possui um traço que ficou na Idade Média. Não creio que fazer a boa faculdade que todos sonhamos e arrumar um bom emprego, ganhar seu próprio dinheiro, colocar no banco em aplicações de renda fixa ou lutar incessantemente a cada dia para ser aceito nesse escasso, cada vez mais escasso metier de bem sucedidos.

O glamour possui, a meu ver, um forte laço com a decadência.

E me descobri andarilho, um andarilho preguiçoso e medroso que não quer ir pra muito longe da mãe e do pai. Mas um andarilho. Um espírito meio rebelde, meio selvagem, meio tosco, que odeia as quatro paredes.

Me revolvo na cama a cada madrugada e não entendo bem por qual motivo. Me revolvo na revolta íntima e severa de que os dias estão passando e eu nada realizando.

Mas minhas ambições sequer estão na arte. Não nessa arte pragmática, pronta pra se transformar em um poderoso cofrinho.

Minhas ambições estão na arte que fica presente pelo mundo. Quero ver de perto o que o homem produz ou produziu pelo mundo. Tenho paixão dentro de mim que me angustia porque não encontra, simplesmente, espaço pra se satisfazer.

Não sou fiel, nem tampouco consigo me apaixonar por uma única pessoa. Sou passional, mas profano. Sou habitante de um mundo que como palácio gigantesco não consigo visitar todos os cômodos e acho desperdício.

Quero mochila. Quero sol, quero lua e estrelas acima de mim. Quero rio, quero mares, quero mais.

Quero vento e ir com ele pra outras paragens.

Não quero ser um só, nem saber exatamente quem sou. Principalmente porque não sou um só. Não sou tão objetivo assim. Sou homem e é a única coisa que sei no momento.


Graças a Deus.

Foto: "Correndo para um Jogo da Vida" de Jean Cândido Brasileiro

2 comentários:

  1. "O homem nasceu para aprender, aprender tanto quanto a vida permita.
    Cada dia aprendo um pouco mais da vida. Sei, agora, que o labirinto também está andando, avançando, evoluindo.
    Todo fim é exato. O que a gente tem de aprender é, a cada instante, afinar-se como uma linhazinha, para caber passar no furo de agulha, que cada momento exige. Mas não pode ser analiticamente.
    Como nas histórias de fadas, temos de achar e conservar o contato com o gênio que faz tudo isso para a gente. A gente só aprende bem, aquilo que não entende. E o que não existe de se ver, tem força demais, em certas ocasiões.
    O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim. Esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa. Sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.
    O que Deus quer é ver a gente aprendendo - a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da alegria e mais alegre ainda, no meio da tristeza.
    Tudo tem seus mistérios. Tudo o que já foi, é o começo do que vai vir. Quem quer aprender aprende. As coisas influentes da vida chegam assim: Sorrateiras. Ladroalmente.
    Eu quase que nada sei. Mas desconfio de muita coisa. Quem desconfia fica sábio. O sábio fia-se menos na solércia e ciências humanas que das operações do Tao. Muito junto do braseiro, que há gente às vezes que não se aquece direito, mas corre o risco de sapecar a roupa. Eu gosto do amarelo.
    Separação inexiste, se há força de Amor e Fé. Sentir saudades é trazer, mais perto ainda, tudo aquilo que a gente pensa perdido.
    Pessoalmente, penso que chega um momento na vida da gente, em que o único dever é lutar ferozmente para introduzir, no tempo de cada dia, o máximo de "eternidade". Rezo, escrevo, Amo, cumpro, suporto, vivo - mas só me interessando pela eternidade.
    Quando aprecio como fruidor uma obra de arte, sinto que isso é para que algo em mim se transforme.
    Quando faço arte, é para que se transforme algo em mim, para que o espírito cresça. Tudo é mistério. Tudo é e não é. Ou: às vezes é, às vezes não é. Todos os meus livros só dizem isso.
    À parte o que o Cristo nos ensina, só há meias verdades.
    Por isso, procuro cada vez mais guiar-me pela intuição, e não pela inteligência reflexiva.
    Graças a Deus, tudo é mistério. E no fim a gente esbarra é em Deus."
    Guimarães Rosa

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  2. Du, belo texto e incrivelmente verdadeiro.
    Miss u.

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