foto: Tito Barbosa |
E bem no tempo da música, aquela que nem é tão grande, aquela de quatro minutos e pouco, vem toda uma vida, todo o impulso de um coração no trampolim numa piscina de águas pouco transparentes.
Eu sei que é fundo e não sei ao certo escolher se pulo e mergulho até o chão ou permaneço na superfície. A superfície queima, mas eu a conheço. Eu a identifico. Posso sentir seu perfume e sua respiração. Falo de superfície mesmo?
Falo dessa música de pouco mais de quatro minutos e meio que faz meu peito se apertar como se fosse a própria mão de alguém que se afasta e te toca o rosto em despedida. É o olhar que permanece. É o olhar. O olhar se faz presente quando se pensa em... Amo?
Nesse ímpeto de sentir e como velhos conhecidos workaholics da emoção, ainda é dia e sem sol o tempo nubla visões distorcidas de um beijo. Não permaneço, não preciso permanecer, há medo há tempos. E penso em um poema que diz
Toda praça se diz sozinha
até que alguém a encontre
e a madrugada sente seu vento
como um frio nunca antes visto
até que alguém se aqueça
Nunca disse o quanto me perdi
e nem como fiz para me salvar
eu poderia explicar que foi amor
mas não, não foi o amor
Eu poderia dizer eu te amo
que meu coração cuspiria suas flores
e se esvaziaria de cores
sem rimas, sem brilho, sem olhos
Mas de fato eu amo
E amo esses dias pequenos
Esses cafés que nunca chegam
E esse frio que não se aquieta
Então posso simplesmente correr
para longe de seus olhos
para longe de qualquer ponto cardeal
Eu poderia dizer qualquer coisa
que nada seria simples.